Metodologia de Incubação

ITCP-UFV propõe uma metodologia participativa que consiste no acompanhamento sistemático e dialógico dos grupos, bem como o aprofundamento sobre novas formas de organização, de fomento a redes de produção e consumo, com base nos princípios da Economia Popular Solidária. O trabalho consiste em três fases: Pré-Incubação, Incubação e Desincubação.

  • Pré-incubação

A pré-incubação tem como objetivo principal iniciar um trabalho coletivo com os grupos que se aproximaram da incubadora. Essa etapa tem como principal função estabelecer o marco zero de acompanhamento da ITCP-UFV, ou seja, o diagnóstico da situação inicial do empreendimento econômico solidário que pode estar em fase inicial de constituição ou não. Nesse momento, o processo de incubação tem seus principais eixos de atuação definidos, assim como suas estratégias prioritárias. Os métodos utilizados na pré-incubação compreendem o Diagnóstico Rápido Participativo e o Planejamento Estratégico Participativo.

É importante que se definam os indicadores de acompanhamento e de resultados a serem mensurados ao longo do processo de incubação. Trata-se de uma etapa em que se define o acordo entre empreendimento e ITCP-UFV. Para formalizar essa parceria um Termo de Parceria com Plano de Incubação é assinado, delimitando as responsabilidades e os papéis de cada ator. É importante, em princípio, prever um prazo para incubação e as possibilidades de sua renovação, de acordo com as fontes de recurso e os projetos disponíveis na ITCP-UFV.

  • Incubação

A fase de Incubação variará de empreendimento para empreendimento de acordo com as necessidades de desenvolvimento de cada um. Tais prioridades serão determinadas em processo de diálogo. Nessa ação, busca-se o fortalecimento do grupo em diferentes âmbitos: econômico, social e político. As peculiaridades dos empreendimentos inseridos no contexto da economia solidária demandam ações que possibilitem tal articulação, pois essas iniciativas compreendem ações de geração de trabalho e renda, por meio da atuação coletiva, contrapondo-se a modelos hegemônicos de organização e reprodução da vida.

O processo de incubação deve estar atento e sensível à tais questões, trabalhando em diferentes frentes de forma interdisciplinar, privilegiando aspectos de viabilidade econômica, considerando que trata-se de iniciativas de geração de renda e inclusão produtiva. Por outro lado, torna-se fundamental também trabalhar estratégias voltadas à organização autogestionária, a formação em economia solidária, a organização de redes e os debates acerca de políticas públicas.

Tal ação pressupõe a adequação sociotécnica e o desenvolvimento de tecnologias sociais para sustentabilidade e viabilidade das iniciativas envolvidas. Por meio de parcerias com diferentes departamentos da UFV, a ITCP-UFV busca fomentar a construção de produtos e técnicas apropriadas aos empreendimentos. Além disso, pode-se considerar que o desenvolvimento e sistematização da metodologia de incubação representa também a construção de métodos que devem passar por adequações e podem ser reaplicáveis. Conforme ressaltou-se anteriormente, a demanda parte dos grupos envolvidos e seus trabalhadores e trabalhadoras participam desse processo de construção na busca por soluções efetivas que possibilitem a transformação social.

A estratégia de Incubação dos empreendimentos econômicos solidários busca ampliar a perspectiva de incubação de empreendimentos isoladamente. Essa opção apoia-se em diversos estudos e experiências práticas da ITCP-UFV que demonstram a necessidade de ações em rede e uma ambiência favorável que possibilite o desenvolvimento de iniciativas coletivas, autogestionárias e populares, inscritas no campo da economia solidária. A viabilização da autonomia e a promoção da sustentabilidade econômica desses grupos dependem de ações de capacitação e assessorias aos trabalhadores e às trabalhadoras, mas também do fomento de parcerias e políticas públicas e ações integradas com outros empreendimentos.

Nesse sentido, como parte da metodologia de incubação, a ITCP tem equipes e eixos de assessoria divididos por segmentos econômicos. O objetivo é a realização de atividades conjuntas e o apoio mútuo dessas iniciativas, vislumbrando a intercooperação e o desenvolvimento local. Um exemplo claro dessa atuação é o da Rede de Prosumidores. Nela, diversos empreendimentos econômicos solidários podem comercializar produtos e serviços diretamente aos consumidores. A junção entre produção solidária e consumo consciente é capaz de viabilizar diferentes iniciativas que encontram nesse mercado espaço adequado para venda e troca. Através de intercâmbios entre as iniciativas econômicas e os consumidores, observa-se o avanço dessa iniciativa que tem sido uma ação transversal no processo de incubação de empreendimentos realizado pela ITCP-UFV.

Além disso, o apoio aos fóruns municipais, regional e estadual de economia solidária representa a busca pela construção de uma conjuntura positiva ao desenvolvimento dos empreendimentos econômicos solidários. Nesses espaços, realizam-se ações de formação de lideranças dos movimentos, gestores públicos e construção de propostas para ações governamentais. O Fórum é o espaço que viabiliza o debate da sociedade civil no Conselho Estadual de Economia Popular Solidária, mobilizando suas regionais para proposição de orçamentos públicos na política estadual e para organização de conferências públicas com essa temática, por exemplo. Trata-se também da base onde as principais demandas dos empreendimentos são discutidas e encaminhadas. No caso da regional da Zona da Mata e do Fórum Mineiro, a ITCP-UFV desempenha a função de secretaria executiva, apoiando todas as ações dessas organizações, tais como formação em economia solidária, seminários temáticos e feiras. O diálogo com poderes públicos, principalmente municipais e estadual, tem sido constante, o que levou a propor nesse projeto um curso direcionado aos gestores públicos e lideranças comunitárias.

Dentre os eixos de atuação da ITCP-UFV, a formação em economia solidária é considerada fundamental para o fortalecimento de empreendimentos econômicos solidários. Tal ação é prevista ao longo do processo de incubação e perpassa de forma transversal as discussões metodológicas desenvolvidas junto aos grupos. Por se tratar de uma temática nem sempre conhecida em diferentes áreas do conhecimento, a Incubadora desenvolve atividades internas à Universidade que visam a divulgação e reflexão sobre a temática em seminários, encontros e atividades de intercâmbio. Dessa forma, busca-se envolver técnicos, docentes e discentes nesses debates. Além disso, a ITCP-UFV tem desenvolvido peças teatrais acerca da economia solidária e temas afins para apresentação em espaços públicos em que tais interações artísticas representam momentos de formação. Da mesma forma, o programa participa da Troca de Saberes, espaço de integração entre conhecimentos científicos e não científicos através das instalações artísticas pedagógicas.

Dessa forma, compreendendo o desafio elencado e a complexidade da tarefaa de incubação de empreendimentos econômicos solidários, a ITCP-UFV baseou sua metodologia a partir de eixos de atuação que, mesmo integrados, envolverão determinadas técnicas e equipes especializadas nessas frentes.

Entre os eixos de ação no processo de Incubação destacam-se: 1) Econômico; 2) Autogestão; 3) Formação em Economia Solidária; 4) Legalização; 5) Tecnologia Social; 6) Organização em Redes, Fóruns e acesso à Políticas Públicas.

Para cada um dos eixos, há professores e estudantes de diferentes áreas de conhecimento responsáveis em desenvolver instrumentos adequados a cada processo que envolve a atividade econômica dos grupos incubados. Nesse sentido, no que se refere ao eixo econômico, por exemplo, tem-se a elaboração de estudos de viabilidade econômica, contendo análise de custos e análise de mercado. No caso do eixo autogestão, processos de gestão organizacional e organização coletiva. No eixo de formação solidária em economia solidária, tem-se a discussão de temas e princípios envolvendo a discussão teórica e política da economia solidária. O eixo legislação, envolve aspectos organizativos (constituição de empreendimentos, tributação e legislação específicas). O eixo tecnologia social, trata de questões relacionadas à inovações sociais que envolvem tanto os processos produtivos, quanto organizativos. Já o eixo de Organização de Redes e Fóruns, são habilidades voltadas para gestão social de políticas públicas e capacidade de incidência política.

Esses conteúdos (eixos) serão trabalhados por meio diagnóstico rápido participativo; planejamento estratégico participativo; reuniões sistemáticas de acompanhamento; oficinas em temas diversos; visitas técnicas de assessoria e intercâmbio.

Para espaços de avaliação e planejamento do projeto, serão realizados dois encontros com a participação de todos os grupos incubados.

Para o desenvolvimento do diagnóstico será utilizado entrevistas semi-estruturadas bem como metodologias participativas e técnicas de METAPLAN na qual serão identificadas as principais dificuldades e potencialidades de desenvolvimento da atividade desenvolvida pelo grupo. A partir do diagnóstico será realizado um planejamento estratégico, envolvendo questões referentes ao ambiente interno e externo, forças, fraquezas, ameaças e fortalezas, na qual gerará um plano de ação, que balizará as visitas técnicas, reuniões de acompanhamento, oficinas e intercâmbios. Na execução do plano de ação, a equipe se organizará pelas áreas temáticas (eixos) e por habilidades técnicas para promoção da assessoria.

Nas oficinas, os participantes discutirão problemas e potencialidades, trocarão experiências vividas e proporão alternativas e soluções condizentes com a realidade e encaminhamentos necessários. O conteúdo das oficinas será definido a partir dos diagnósticos participativos e planejamento estratégico.  As visitas técnicas serão responsáveis em operacionalizar as problemáticas levantadas nas oficinas, relacionando cada intervenção a uma demanda evidenciada nas oficinas. Dessa forma, pretende-se promover a adequação sócio-técnica, ou seja, cada visita técnica ocorrerá de acordo com a realidade dos empreendimentos de distintas maneiras por estes encontrarem-se em realidades diversas, sempre após as demandas levantadas nas oficinas.  O intercâmbio entre esses empreendimentos e grupos tem o objetivo de compartilhar desafios e aprendizados na gestão da atividade econômica e na organização coletiva.

 

  • Desincubação

Por fim, a fase de desincubação leva em consideração o planejamento realizado inicialmente e suas avaliações periódicas. Os empreendimentos econômicos solidários serão desincubados, sabendo que eles podem continuar a participar de ações pontuais promovidas pela Incubadora, assim como se almeja que os mesmos estejam articulados em redes e fóruns locais. Para isso, faz-se necessário construir um plano de desincubação com os indicadores e critérios favoráveis para o momento. 

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